35 anos do acidente com o césio 137 em Goiânia

Em memória aos 35 anos do pior acidente radiológico fora de uma central nuclear, o 11º International Uranium Film Festival 2022, de 19 a 29 de maio, na Cinemateca do MAM Rio, terá uma sessão especial dedicada à memória das vítimas do acidente com o césio-137, em Goiânia, 1987. No dia 28 de maio (sábado), na sessão das 16:00, o público será brindando com a estreia mundial "Para não esquecer" de Gabriel Leal e com a presença de Odesson Alves Ferreira, uma das vítimas do acidente e o maior esclarecedor dessa tragédia. Conhecer esta história é o primeiro passo para evitar que novos acidentes como este aconteçam. Programação completa do 11º Uranium Film Festival 2022: aqui

PARA NÃO ESQUECER O ACIDENTE COM O CÉSIO 137 EM GOIÂNIA

No dia 13 de setembro de 1987, dois jovens que catavam sucata para o sustento, encontraram uma cápsula de chumbo em meio à ruína de uma antiga clínica de tratamento de câncer desativada, do Instituto Goiano de Radioterapia, na cidade de Goiânia.

Sem saber que esta cápsula de chumbo continha uma fonte de césio-137 e que é altamente radioativa, os rapazes pegaram a cápsula, carregaram para casa em um carrinho de mão e venderam para um sucateiro seis dias depois. O curioso negociante de sucata abriu a cápsula e descobriu um pó de cristal branco que brilhava azulado no escuro. Encantado com a descoberta, ele distribuiu o pó para parentes e amigos. Esta cápsula de chumbo continha uma fonte de césio-137, dando origem ao maior acidente radiológico do Brasil.

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), foi informada às 15 horas do dia 29 de setembro de que haviam áreas contaminadas e pessoas que apresentavam sintomas de exposição à radiação. “As proporções do acidente foram agravadas pelo longo tempo decorrido entre o evento e sua notificação às autoridades. A fonte, na forma de cloreto de césio, composto químico de alta solubilidade, e o seu inadequado manuseio, contribuíram para aumentar o número de pessoas e áreas contaminadas.” (Relatório do Acidente Radiológico em Goiânia, CNEN 1988).

A cápsula continha apenas 19 gramas de césio-137, no entanto causou sofrimento infinito às vítimas e gerou mais de 6.000 toneladas de lixo radioativo, armazenado em local especialmente criado, na cidade de Abadia de Goiás, a 22 Km de Goiânia. Esse lixo precisará ser diariamente cuidado por pelo menos 268 anos. 

Césio-137 não é produzido pela natureza. É um nuclídeo altamente radioativo com meia-vida de 30 anos. É produto da fissão do urânio-235, criado pela explosão de bomba atômica ou em usinas nucleares como lixo radioativo. O césio-137 foi vendido durante décadas em todo o mundo para irradiar células cancerosas. Atualmente, o maior problema é com o descarte desses antigos aparelhos. 

"Não temos aprendido nada. E nada impede que acidentes como este volte a acontecer”.  Odesson Alves Ferreira, vítima do acidente com o césio 137 em Goiânia, em entrevista ao jornal argentino La Nacion, 8 jan 2022

 

Para Não Esquecer

Em 2021, o International Uranium Film Festival do Rio de Janeiro lembrou o maior acidente radiológico da América Latina que aconteceu em setembro de 1987.  De 13 a 19 de setembro de 2021, foram exibidos 8 filmes sobre este acidente que marca uma triste história do Brasil. Um encontro online com uma das vítimas do césio, Odesson Alves Ferreira, com os cineastas que participam da mostra e o especialista em Radiobiologia, Dr. Alphonse Kelecom, marca a abertura desta mostra virtual, no dia 13 de setembro, 16 horas (não é necessária inscrição).  A Mostra "Para Não Esquecer. 34 anos do acidente com o césio 137 em Goiânia", totalmente online e gratuita, conta com apoio da Cinemateca do MAM Rio. Estrelas do Globo fazem parte da Mostra. Os atores e atrizes Paulo Betti, Denise Milfond e Stepan Nercessian apresentam o longa-metragem "Césio 137. O Pesadelo de Goiânia" que recentemente foi restaurado digitalmente. 
 

Programação Mostra Césio - 2021

 
 
A abertura da Mostra dos 34 anos do acidente radiológico em Goiânia será marcada com um encontro online com uma das vítimas do césio, Odesson Alves Ferreira (foto destaque), com o Professor Dr. Alphonse Kelecom (membro da banca de júri do Uranium Film Festival e professor do Laboratório de Radiobiologia da Universidade Federal Fluminense) e com os cineastas Ângelo Lima, Benedito Ferreira, Michael Valim e Petrus Pires. Será um encontro entre Arte & Ciência: os cineastas, participantes da mostra, irão conversar com o público sobre suas produções, o especialista em radiobiologia esclarecerá os pontos técnicos do acidente e Odesson Ferreira, membro da Associação Vítimas do Césio 137 em Goiânia (AVCésio), nos trará a realidade de quem vive até hoje com os efeitos do acidente na própria pele (Foto: Odesson Alves Ferreira mostrando as mãos que tocaram no pó de césio). Link de acesso ao encontro online, sem necessidade de inscrição: https://www.youtube.com/watch?v=WysMZbmfkzw
 

Lista de filmes online de 13 a 19 de setembro de 2021

 
Apresentação de Leopoldo Nunes
Brasil, 2003, Direção e Roteiro Ângelo Lima, Ficção, 4 min - A primeira vítima do acidente radioativo, em Goiânia, com o césio-137, foi uma criança de 6 anos. Onde ficou os seus sonhos e brincadeiras? Leide das Neves não teve tempo para brincar.
 
 
 
Brasil, 2008, Direção Ângelo Lima, Documenário, 30 min - Em 1987, aconteceu em Goiânia um dos maiores acidentes radiológicos do mundo. As vítimas contam como foi e como estão vivendo. De quem foi a culpa deste acidente? O que o Governo está fazendo para amparar as vítimas que foram atingidas diretamente? Medo e silêncio tomam conta de uma cidade (Foto: Chegada de radioacidentados no Aeroporto do Rio de Janeiro para tratamento no Hospital da Marinha Marcílio Dias).
 
Ângelo Lima - Pernambucano de Recife, Ângelo Lima chegou em Goiás aos 8 anos, em 1959. Produtor, ator, fotógrafo e diretor, Ângelo Lima entrou oficialmente no mundo do cinema aos 16 anos. São quase 50 anos de carreira, 4 longas, 26 curtas-metragens e cerca de 40 prêmios em participações em mais de 280 festivais em todo o mundo. Premiado duas vezes no maior festival de cinema ambiental da América Latina, o FICA de Goiás, e recebeu o título de cidadão goianiense em 2014.  
 
 
Brasil, 2003, Direção Luiz Eduardo Jorge,  Produção Laura Pires, Documentário, 24 min - Curta-metragem brasileiro que mostra os efeitos de uma verdadeira tragédia na cidade de Goiânia, Brasil, em 1987, causada pelo elemento radioativo chamado césio 137. O filme aborda as consequências de quem foi exposto direta ou indiretamente pelo acidente radiológico e evidencia a falta de preparo daqueles que deveriam orientar formas de prevenção. Os relatos nos fazem refletir sobre o conhecimento técnico existente nos órgãos de fiscalização e controle para o caso de um acidente com material radioativo.
 
A falta de informação alimenta até hoje a estigmatização dos contaminados, que sobrevivem com extrema dificuldade, e dos moradores das áreas próximas ao local onde a fonte do aparelho radiológico foi violada num ferro velho. Melhor Curta Júri Popular do International Uranium Film Festival 2011 (Foto: Devair Ferreira, uma das vítimas do césio 137).
 
Luiz Eduardo Jorge - Cineasta goiano, escritor e professor. Licenciado em História pela Universidade Católica de Goiás, Mestre em Ciências da Comunicação e Doutor em Artes, ambas pela Universidade de São Paulo, com doutorado sanduíche em Antropologia Visual na École des Hautes Études en Sciences Sociales, Marselha, França (1992/1993). Luiz Eduardo Jorge foi diretor de 18 filmes com temas sociais, históricos e culturais e Professor da Universidade Católica de Goiás. Como diretor, recebeu prêmios como Melhor Produção Goiana no FICA (2003), Menção Honrosa no 13º Videobrasil de São Paulo (2001).  Ele disse sobre si mesmo: "Eu nasci pouco antes da ditadura brasileira. Eu vivi a ditadura militar por vinte anos. A minha proposta para trabalhar com filme vem de um compromisso de militância política. Quero ser verdadeiro, eu trabalho com cinema verdade.“  Luiz Eduardo Jorge morreu de câncer, em 2017. 
 
Apresentações de Paulo Betti, Denise Milfond e Stepan Nercessian
Brasil, 1989, Direção Roberto Pires, Produção Executiva Laura Pires, Elenco Nelson Xavier, Joana Fomm, Paulo Betti, Denise Milfond e Stepan Nercessian, Ficção, 95 min - Uma cápsula de chumbo foi encontrada por catadores de sucata nos escombros do Instituto Goiano de Radioterapia que estava desativado, na Cidade de Goiânia, capital de Goiás. A cápsula foi vendida para um ferro velho. Devair, dono do ferro velho, comprou a cápsula para aproveitar o chumbo e tentou abri-la, e descobriu que o material emitia uma luz azul à noite. A partir daí, passou a mostrar para amigos e familiares (Foto: Poster de divulgação do filme).
 
Era o césio-137 e deixou centenas de contaminados e um número desconhecido de mortos. Apenas quatro mortes foram constatadas oficialmente.  „Césio 137. O Pesadelo de Goiânia“ recebeu o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Natal e seis prêmios no Festival de Brasília, ambos em 1990 e Prêmio de Melhor Longa Juri Popular no International Uranium Film Festival Rio de Janeiro em 2011.
 
O longa conta com depoimentos das vítimas do acidente, servindo como base para seu roteiro. Com grande elenco de atrizes e atores famosos nos papéis principais, além de breves aparições das próprias vítimas do acidente como figurantes (Foto: Paulo Gorgulho e Paulo Betti em cena do filme).
 
Roberto Pires:  Cineasta e Diretor, Roberto Pires nasceu em 1934, em Salvador, Bahia. Ele foi o primeiro cineasta brasileiro a pensar a temática nuclear, tendo o físico César Lattes como consultor técnico. Quando aconteceu o acidente com o césio 137, em Goiânia, em 1987, Roberto Pires estava morando em Brasília para buscar patrocínio para o seu próximo filme sobre a temática nuclear e partiu imediatamente para Goiânia.   Roberto Pires investigou o acidente e entrevistou sobreviventes.  Amigos e familiares atribuem a este trabalho em Goiânia como o agravamento, ou o surgimento, de um câncer no pescoço. O amor pelo cinema e a preocupação com a fidelidade aos fatos ofuscaram o perigo que havia no local. Após um longo período de sofrimento, Roberto Pires morreu de câncer, em junho de 2001.
 
Césio 137 - O PESADELO DE GOIÂNIA 30 anos após o lançamento foi restaurado digitalmente. O projeto é uma iniciativa do Instituto Memória Roberto Pires e tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal. 
 
 
Suécia / Brasil, 2009, Direção Lars Westman, Co-Produção Zenildo Barreto. Documentário, 70 min, Português / Sueco com legendas em português - Um documento incomparável da história sobre o mais grave acidente radioativo da América Latina e sobre o trabalho de sua limpeza. Em setembro de 1987, 19 gramas de césio-137 radioativo, proveniente de uma unidade de tratamento de câncer desativada, na cidade de Goiânia, prejudicaram e contaminaram centenas de pessoas e produziram 6 mil toneladas de lixo nuclear. O jornalista, que chegou à Goiânia logo após o reconhecimento oficial do acidente radioativo, reuniu imagens impressionantes dos trabalhos de descontaminação e das vítimas. Ele reencontrou os entrevistados duas vezes após as primeiras gravações, em 1990 e 2000. Um dos entrevistados, Ivo Alves Ferreira, morreu dias depois da última gravação. O filme ficou pronto em 2009 (Foto: cena do filme mostrando a medição de radiação nos moradores próximos ao local do acidente).
 
Lars Westman nasceu em 27 de setembro de 1938, em Östersund, na Suécia. Estudou Arte na Universidade de Estocolmo (1963) e frequentou a escola de produção da televisão sueca (1969). Por quase 50 anos, trabalhou principalmente para a televisão escandinava. Mais de 280 de seus filmes foram transmitidos na Suécia, Finlândia, Noruega, Dinamarca, Alemanha, França e Estados Unidos, ganhando vários prêmios internacionais. Uma de suas temáticas principais: „vida e morte“. Em 1987, foi um dos primeiros jornalistas estrangeiros a cobrir o acidente do césio em Goiânia.
 
 
Brasil, 2017, Direção Benedito Ferreira. Ficção, 23 min - Avó e neta vivem no centro de Goiânia, ao lado do lote onde aconteceu o acidente com o césio-137. Mas elas estão de mudança, pois em breve a casa será demolida para a construção de um museu. Enquanto isso, uma estranha presença orbita pela casa. O filme é uma reflexão pessoal e sensível sobre o acidente radioativo de Goiânia. O curta metragem foi premiado, em 2017, no Festival Internacional de Cinema Ambiental (FICA) e no International Uranium Film Festival em Berlim.
 
“Um ótimo filme, com um grande diretor que tem a coragem de conciliar uma fotografia calma e mensagens puramente cinematográficas com visões fortes. Confiante! Você não encontra isso com frequência. Um filme sem desfilar vaidades e sem a superestimação e arrogância de alguns realizadores. O duração também é perfeita: Nem muito nem pouco. O filme tem efeito“, avaliou o jurado do Uranium Film Festival, Marcus Schwenzel da Associação Federal Alemã de Diretores de Cinema (Foto: cena do filme gravada no local do acidente).
 
Benedito Ferreira:  Nasceu em Itapuranga (GO), 1989. Vive e trabalha em Goiânia. Artista visual e pesquisador. Graduado em Audiovisual pela Universidade Estadual de Goiás, Mestre em Arte e Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás e doutorando em Artes na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.  Suas investigações artísticas estão centradas na imagem como escrita, na poética dos arquivos, suas montagens e apagamentos nos limites entre “documento” e “ficção”.  Durante a premiação no Uranium Film Festival em 2017, Benedito Ferreira evidenciou em sua fala a falta de discussão em torno do acidente do Césio 137: “Devemos discutir mais sobre o acidente, ter quer deixar viva a memória, para que isso não ocorra nunca mais.”
 
 

Brasil, 2011, Direção Michael Valim. Vídeo-arte / performance musical, 9 min - Entre os papéis da Arte, está o de trazer à tona coisas que a  memória da cidade tenta esconder. Para lembrar o acidente com o césio 137, uma performance de dança moderna justamente no local mais radioativo à época do acidente: Rua 57, número 60, no centro da cidade de Goiânia. As casas foram demolidas, a camada superior da terra removida e tudo foi descartado como lixo nuclear. 

No entanto, o solo ainda estava muito radioativo. Para isso foi selado com uma camada de cimento de 50 centímetros de espessura. Até hoje, a Rua 57, número 60 é uma ferida aberta no centro de Goiânia e testemunha do pior acidente radioativo do Brasil (Fotos: cenas do filme, performance do Grupo „¿Por Quá?“ no local do acidente).

Michael Valim é Mestre em Direitos Humanos pela Universidade Federal de Goiás, especialista em Filosofia da Arte e bacharel em Comunicação Social. Trabalha na TV da Universidade Federal de Goiás. Michael Valim: “Fui convidado para dirigir o filme pelo grupo de música „Vida Seca“ e pelo grupo de dança „¿Por Quá?“ com a proposta de fazer um ato político sobre a tragédia. Acredito que as autoridades usam muito a imagem da Leide das Neves como um mártir para disfarçar o descaso do poder público em relação à questão no passado e no presente. Por isso o filme é um pouco ruidoso e foi feito com a intenção de incomodar. O que aconteceu em Goiânia foi muito forte, não pode ser amenizado. Um povo sem memória está fadado a repetir os erros de seu passado.” 
 
 
Brasil, 2021, Direção Márcia Gomes de Oliveira e Norbert G. Suchanek, Documentário, 30 min - Estreia Mundial - Odesson Alves Ferreira poderia ser qualquer um de nós, quando foi gravemente contaminado pelo césio 137, em Goiânia. A família dele foi uma das mais atingidas. Foi seu irmão, dono de um ferro-velho, quem comprou a sucata contendo 19 gramas de césio 137. Odesson sobreviveu à radiação e luta desde o começo da tragédia pelos direitos das vítimas do Césio-137. 30 anos depois do acidente, ele viajou para Berlim para receber o Prêmio de Honra ao Mérito do International Uranium Film Festival 2017.  Foi seu primeiro vôo fora do Brasil. Numa entrevista, com uma clareza extraordinária, Odesson lembra cenas inesquecíveis do acidente (Foto: Odesson Ferreira com o público no Uranium Film Festival Berlim 2017).Norbert G. Suchanek
 

Você pode assistir todos os filmes listados gratuitamente, sem necessidade de inscrição e a qualquer hora de 13 a 19 de setembro de 2021 (segunda a domingo), na plataforma do Vimeo da Cinemateca do MAM Rio. Agradecemos o apoio do MAM Rio ao longo desses 10 anos de Uranium Film Festival. Curadoria e produção Norbert G. Suchanek e Márcia Gomes de Oliveira.

 
Sobre o acidente

Há 34 anos, em 13 de setembro de 1987, dois jovens em busca de sucata entraram nas ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia, antiga clínica de tratamento de câncer, na cidade de Goiânia. Eles encontraram uma unidade de radioterapia abandonada, com uma cápsula de chumbo que continha 19 gramas de césio-137. Sem saber dos riscos da radioatividade, ou mesmo do nome "radioativo", eles pegaram a cápsula, arrastaram-na para casa em um carrinho de mão e venderam para um sucateiro seis dias depois. O curioso negociante de sucata abre a cápsula e descobre o pó de cristal branco que brilha azulado no escuro, cloreto de césio-137 - o brilho da morte! Só no dia 29 de setembro, quando dezenas de enfermos com estranhos sintomas já lotavam os hospitais de Goiânia, é que as autoridades nucleares tomaram conhecimento do acidente radioativo. Naquela época, os cristais de césio-137 já estavam amplamente espalhados pelo bairro. Centenas de pessoas foram contaminadas e milhares foram expostas aos raios gama, sem saber. As autoridades reconheceram oficialmente apenas quatro mortes, causadas por radiação. Mas pesquisas feitas por sindicatos e associações de sobreviventes indicam pelo menos 66 mortes e cerca de 1.400 vítimas contaminadas. Apenas 19 gramas de césio-137 não só causaram sofrimento infinito às vítimas, mas também geraram, em Goiânia, mais de 6.000 toneladas de lixo radioativo que permanece perigoso por mais de 200 anos e está armazenado hoje no depósito de lixo radioativo em Abadia de Goiás, a apenas 22 quilômetros da cidade de Goiânia. Césio-137 é um nuclídeo altamente radioativo e não natural com meia-vida de 30 anos. É um produto da fissão do urânio-235 e é criado pela explosão de bombas atômicas ou em usinas nucleares como lixo radioativo. O césio-137 foi vendido durante décadas em todo o mundo para irradiar células cancerosas. Atualmente, o maior problema é com o descarte desses antigos aparelhos. Acredita-se que a fonte de radiação do acidente de Goiânia tenha sido produzida nos EUA, no Laboratório Nacional de Oak Ridge (Foto superior: Rua 57, número 60, endereço de casas demolidas, em 1987, um dos dois locais mais radioativos da cidade de Goiânia.)
 
Contato
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