10 ANOS, 40 CIDADES E 7 PAÍSES

Um breve histórico sobre o Uranium Film Festival de 2011 a 2020


O International Uranium Film Festival (IUFF) - Festival de Cinema da Era Atômica - foi fundado em 2010, no Rio de Janeiro, e aconteceu pela primeira vez, em maio de 2011, em dois centros culturais históricos do bairro artístico de Santa Teresa. Foi um início de sucesso que atraiu principalmente escolas com centenas de alunos e professores. Além disso, o Festival recebeu convites de todo o mundo para realizar mostras.
 
Na 1ª edição, a escolha do júri para o Melhor Documentário de Longa-metragem foi “Into Eternity“, do diretor dinamarquês Michael Madsen. O filme leva o público a milhares de metros abaixo da terra, em uma formação rochosa da Finlândia, onde pela primeira vez no mundo, está sendo construída uma instalação de armazenamento de lixo nuclear de contaminação de alto risco. O filme faz a seguinte pergunta: Isso é seguro? O Melhor Documentário de Curta-metragem foi “Urânio 238: A Bomba Suja do Pentágono“ do diretor Pablo Ortega, da Universidade da Costa Rica, sobre a natureza, uso e consequências das armas de urânio empobrecido ou DU - sigla para urânio empobrecido em inglês: “depleted uranium”.

“Em meus 25 anos como ativista anti-DU, esta experiência foi um destaque na exposição de um problema muito sério que a humanidade enfrenta hoje - o uso de lixo radioativo como arma militar”, disse Damácio Lopez, diretor executivo da organização não governamental International Depleted Uranium Study Team, que apresentou o filme de 28 minutos junto com a produtora Isabel Macdonald. Encerrando com chave de ouro, o festival foi presenteado com o espetacular e multissensorial curta-metragem „Bombas Atômicas no Planeta Terra” de Peter Greenaway que recebeu o prêmio Hors Concours.
 
 

 

First Uranium Film Festival Ends With an Onscreen Blast titled the Environment News Service.

Desde 2012, o prestigioso Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) tornou-se parceiro do Uranium Film Festival e sua Cinemateca o nosso local principal. Também em 2012, o festival aconteceu em Lisboa e conquistou Berlim que se tornou a segunda casa do festival. O cineasta premiado da Índia Shri Prakash veio à Berlim para apresentar sua obra-prima „Buddha Weeps in Jadugoda“ (Buda Chora em Jadugoda) sobre as consequências chocantes da mineração de urânio na Índia. E uma coisa veio a outra. Shri Prakash tornou-se parte da crescente "família nuclear" do festival e organizou conosco no ano seguinte uma turnê do festival em 10 cidades pela Índia, de Nova Delhi a Hyderabad e Mumbai. A estrela de cinema de Tollywood e ativista Amala Akkineni de Hyderabad homenageou o Uranium Film Festival duas vezes com sua presença, em 2013 e 2014.

A abertura do Uranium Film Festival 2013, em Hyderabad, com a atriz Amala Akkineni, foi verdadeiramente mágica. Foi um evento ao ar livre no centro da cidade à noite. Mostramos o premiado documentário 'Into Eternity' sobre o projeto do depositório nuclear, enquanto centenas de morcegos frugívoros voavam sobre a paisagem no céu escuro da noite.

Shri Prakash lembra: “O momento mais comovente foi quando uma jovem estudante, em Hyderabad, em lágrimas e nó na garganta disse que se sentiu traída por sua criação e educação que a mantiveram no escuro sobre questões como esta. Ela disse que, até a sua participação no festival, não tinha ideia, nem remotamente perto, de coisas tão cruéis e desumanas acontecendo no mundo, enquanto ela respirava o mesmo ar no mesmo mundo.

Em Ranchi, capital do estado indiano da mineração de urânio, Jharkhand, o povo Adivasi foi a estrela do festival. Por décadas, os Adivasi sofrem com a mineração de urânio em Jadugoda. Uranium Film Festival apresentou o trabalho do jovem fotógrafo adivasi Ashish Birulee pela primeira vez a um público mais amplo. „Minha exposição fotográfica ‘Jadugoda Unumo Tana: Drowning In Nuclear Greed’ foi um grande sucesso “, lembra Ashish Birulee. „Eu me tornei o primeiro Adivasi de Jharkhand a exibir fotos em uma plataforma internacional. A exposição que recebi levou-me a mais exposições fotográficas nacionais e internacionais.
 

Through My Lens, The Story Of Jadugoda And My People Reached Far And Wide

 

Além da Índia, em 2013, Uranium Film Festival chega aos Estados Unidos. "Entramos nos Estado Unidos por uma porta pouco convencional", comenta uma das fundadoras do festival Márcia Gomes. "Com o apoio da Seventh Generation Fund for Indigenous Peoples, nossa primeira mostra foi no território do povo indígena Navajo, cujo nome original é Diné", diz Márcia. Em plena capital Navajo, Window Rock, no Arizona, o festival aconteceu no Museu da Nação Navajo. O presidente da Nação Navajo, Ben Shelly, abriu o festival lembrando o legado mortal da mineração de urânio nas terras Navajo. De 1944 a 1986, quase 30 milhões de toneladas de minério de urânio foram extraídas do solo sagrado Navajo. Hoje as minas estão fechadas, com mais de 500 minas de urânio abandonadas, deixando um legado de contaminação de urânio, com fontes de água doce e casas contaminadas com radioatividade.

 

No início do ano seguinte, em 2014, o festival chegou na capital dos Estados Unidos, Washington DC. Com a sala de projeção lotada no Instituto Goethe de Washington, o festival fez brilhar o documentário brasileiro “Pedra Podre” sobre as usinas em Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Nesta mesma viagem, o festival desembarcou em Nova York, num verdadeiro „Conto de Inverno“. Organizado em cooperação com Peace Boat US, O Uranium Film Festival aconteceu no Brooklyn, no rigoroso inverno de fevereiro de 2014. O local foi o histórico cinema "The Pavilion". "Embora o aquecimento do cinema tenha ficado fora de serviço por causa de uma nevasca, havia nova-iorquinos de todas as partes da cidade embrulhados em seus casacos e até cobertores!", lembra com bravura o fundador e diretor geral do festival Norbert Suchanek. Rachel Clark, equipe de voluntários do Peace Boat, relatou: „Cenas retratando trabalhadores de mineração de urânio na Índia e na África trabalhando sem qualquer equipamento de proteção, escavadeiras gerando poeiras radioativas e montes de sujeira radioativa para obter apenas um punhado de “yellow cake” - a forma pura extraída do urânio - e lixo tóxico radioativo, sendo despejado nos rios, lagoas e no ar, deixaram um impacto duradouro."

 
No ano seguinte, em 2015, o Uranium Film Festival faz parceria com o Grande Conselho dos Crees (Eeyou Istchee). Cree é um povo indígena do Canadá que vive em região de grande concentração de urânio.  Durante 10 dias, mais de 50 filmes de todo o mundo foram exibidos na cidade de Quebec e em Montreal do festival, cada um contando uma história diferente sobre o impacto da mineração de urânio e os riscos da era nuclear. A sessão de abertura, em 15 de abril, contou com a participação da atriz Karine Vanasse (foto) e do ator/ambientalista de Hollywood Ed Begley, Jr.
 
Crees host Uranium Film Festival in Quebec City  
Cree Nation congratulates the International Uranium Film Festival for a successful inaugural event in Quebec  
Karine Vanasse sera présente à Québec aujourd’hui pour inaugurer la 5e édition du Festival international du film de l’uranium. 
 

Em 2016, chega a vez da meca do cinema receber o Uranium Film Festival. Em parceria com Kat Kramer’s Films That Change the World, uma premiação hollywoodiana para filmes que mundam o mundo, o festival aconteceu em Hollywood, no Raleigh Studios, lar desde 1915 de ícones da indústria cinematográfica, como Charlie Chaplin, Douglas Fairbanks e Mary Pickford. O prestigioso teatro Chaplin, com 160 lugares, no Raleigh Studios, ficou lotado nas exibições de  "The Man Who Saved the World" de Peter Anthony, com estrelas como Kevin Costner e Mat Damon, e "Nuclear Savage: The Islands of Secret Project 4.1" de Adam Horowitz fazendo sua estreia em Hollywood. A sessão foi seguida por um painel de debates com estrelas e especialistas sobre energia nuclear, como Mimi Kennedy, Harvey Wasserman, Loe Gossett Jr., Kat Kramer, Esai Morales e Libbe HaLevy.

 

Em 2018, o Uranium Film Festival volta aos Estados Unidos, pela segunda vez na capital do povo indígena Navajo, Window Rock, Arizona. O ponto alto do evento no Navajo Nation Museum foi a performance da cantora, compositora e ex-Miss Navajo, Radmilla Cody lembrando a catastrófica ruptura da barragem de rejeitos do moinho de urânio em Church Rock, 1979. A ruptura liberou mais de 1.000 toneladas curtas de resíduos sólidos radioativos e quase 400 milhões de litros de solução ácida de rejeitos radioativos no rio Puerco. Depois de Window Rock, o Uranium Film Festival viajou pelo Novo México e Arizona, realizando mostras em Albuquerque, Santa Fé, Flagstaff, Grants e Tucson.

 

Iniciamos 2020 comemorando os 10 anos do Uranium Film Festival. Em janeiro, tudo estava preparado para o encontro histórico na 10ª edição do festival, em maio, na Cinemateca do MAM com cineastas, artistas, fotógrafos, jornalistas e especialistas sobre a Era Atômica, com presenças confirmadas da Holanda, Estados Unidos, Dinamarca, Alemanha, Japão, Portugal e Espanha. Antes da OMS declarar Pandemia para o Novo Coronavírus, no dia 07 de março, aconteceu uma mostra especial do Uranium Film Festival em Düsseldorf, na Alemanha. Neste mesmo dia, alunos e professores da escola de produção de eventos e audiovisual da Faetec, Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, estavam conhecendo o MAM, iniciando os preparativos para receber o público e os convidados que chegariam para o festival.

Neste início de março, ainda deu tempo para os diretores do festival embarcarem para Europa, para realizar o 1º Uranium Film Festival em Ferrel, uma pequena cidade litorânea de Portugal. O festival também aconteceria pela primeira vez em território espanhol, numa locação muito especial: Universidade de Almería. Além de ser o berço do estudo científico mundial sobre energia solar, Almería é palco de um episódio pouco conhecido da Guerra Fria: no local caíram, por acidente, bombas atômicas que, apesar de não terem explodidos, houve contaminação radioativa do solo e os casos de moradores com câncer começaram a ser cada vez mais comum desde então. Mas o anúncio da Pandemia, dia 14 de março, cancelou tudo e ficamos num barco à deriva, sem nem mesmo saber como voltaríamos para casa, no Rio de Janeiro...

Depois de tantos cancelamentos e frustações, graças ao apoio da Coalizão Internacional para a Proibição de Armas de Urânio (ICBUW) e do Ministério Federal Alemão para o Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear, tivemos forças para encarar o desafio de realizar o 8º Uranium Film Festival em Berlim, de 15 a 18 de outubro de 2020, no cinema CineStar, do fantástico centro cultural Kulturbrauerei. Foi difícil trabalhar com a constante ameaça do festival ser cancelado a qualquer momento, mas mesmo assim, o festival recebeu um público extraordinário, com salas lotadas (em sua capacidade de ocupação especial durante a Pandemia). O mais incrível ainda foi contar com a presença dos dois cineastas premiados neste ano: a ítalo-australiana Lisa Camillo para receber o prêmio de Melhor Documentário „Balentes - The Brave Ones“, e o diretor Lech Majewski, da Polônia, premiado com o Melhor Filme de Ficção para „Valley of the Gods“, estrelado por Josh Hartnett, John Malkovich e Bérénice Marlohe.

„Estou tão feliz, porque é um festival incrível. Incrível na qualidade dos filmes e das pessoas, todos se conectando. Pessoas que acreditam no que eu acredito. É uma grande esperança saber que você não está sozinho ", disse a premiada cineasta Lisa Camillo.

Uranium Film Festival Berlin Award Winner Lisa Camillo
Uranium Film Festival 2020 – a huge success under difficult circumstances
 

Desde 2011, Uranium Film Festival acontece anualmente no Rio de Janeiro e também mundo afora. Nos últimos 10 anos, foram organizadas mais de 60 mostras, em 7 países (Alemanha, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Índia, Jordânia e Portugal), exibindo cerca de 300 filmes sobre energia nuclear e riscos radioativos, em mais de 40 cidades. Com contribuições mais generosas de patrocinadores públicos e privados, podemos organizar no futuro mais festivais em todas as cidades e capitais importantes do mundo. Junte-se a nós! Faça parte da “família nuclear” de parceiros e apoiadores do Uranium Film Festival. Venha participar dos próximos dez anos de sucesso deste festival único no mundo!

Norbert G. Suchanek & Márcia Gomes de Oliveira

Nota: As viagens para realizar o festival na Índia (2013), Estados Unidos (2013) e Jordânia (2014) aconteceram graças ao apoio da Fundação Heinrich Böll - FHB Brasil. As edições de 2011 a 2015, no Rio de Janeiro, também contaram com o apoio desta fundação alemã. Em 2016, o Rio contou com o apoio da Fundação Friedrich Ebert - FES, também alemã. A Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch, pertencente à Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro FAETEC, é parceira do festival desde a sua criação, em 2010.

Agradecemos a todos que nos ajudaram a chegar até aqui! 

Contato 
International Uranium Film Festival
Rua Monte Alegre 356 / 301 Santa Teresa
Rio de Janeiro/RJ Brasil CEP 20.240-195
info@uraniumfilmfestival.org
 

Mais sobre International Uranium Film Festival
 
Globo News: Cidade e Soluções: Os bastidores do único festival de cinema com tema nuclear.       
TV Brasil: Animania: Passado, Presente e Futuro 
TV Alemã Deutsche Welle:  Deutsche Welle: Energia nuclear é tema de festival de cinema no Rio de Janeiro 
Veja Rio:  Mundo atômico é retratado em mostra de cinema 
 
Berlin Uranium Film Festival: Art vs the Apocalypse - http://redgreenandblue.org/2017/12/27/berlin-uranium-film-festival-art-v...
Uranium Film Festival in New York - https://peaceboatusoffice.wordpress.com/2014/02/19/introducing-the-inter...
Uranium film festival of Brazil - https://www.socialdoc.net/magnus/2011/06/02/uranium-film-festival-of-bra...
Nuclear Hotseat: Nukes Go Hollywood – International Uranium Film Festival - http://nuclearhotseat.com/2016/05/04/nuclear-hotseat-254-nukes-go-hollyw...
Nuclear Hotseat: QUEBEC SPECIAL: - http://nuclearhotseat.com/2015/04/22/nuclear-hotseat-200-quebec-special-...
Nuclear Hotseat: Navajo Nation - http://nuclearhotseat.com/2018/12/12/explosive-films-on-nuclear-uranium-...